É daquelas notícias que ficamos sem saber bem se havemos de rir ou de chorar. Quando as ouvimos ficamos assim num limbo onde oscilamos entre o incrédulo com laivos de estupefacto e o revoltado com resquícios de escandalizado.
Foi assim que me senti quando ouvi a notícia de que o Ministério da Educação pagou a crianças para servirem de figurantes numa iniciativa política. Sim senhor, é mesmo assim! Cada criancinha recebeu a módica quantia de 30 € pelos seus sorrisinhos cândidos e os seus olharzinhos encantados face aos computadores escolares que o senhor Primeiro-Ministro ofereceu tão magnanimanente.
Pensando bem, foi mais uma prova da inteligência ardilosa de quem nos governa pois assim não correu o risco de ser apupado como já aconteceu com membros do governo em visitas a escolas e, para quem estava em casa, sentadinho a assistir na tv a tão bonita iniciativa, foi um momento lindo, em que o futuro e o presente se tocaram através da expressão inocente do rosto de algumas crianças...que neste caso estavam a ser pagas para tal!!
Olho para o meu filho, completamente absorvido nas teias de um jogo de computador ou imerso no seu mundo de envio e recepção de sms constantes e penso na diferença abismal que existe entre o que ocupa os miúdos de agora e o que se fazia no meu tempo sempre que havia tempinho livre.
Para além de adorar andar de bicicleta, jogar à macaca, ao esconde-esconde, badmington e outros jogos que tais, houve desde sempre um passatempo que era o meu preferido: a leitura. Sempre gostei de livros e desde pequena que me têm acompanhado e dado muitos momentos de prazer. Segundo diz a minha mãe, aprendi a ler com apenas 4 anos e a coisa que mais adorava era ficar muito quieta a devorar os pequenos livros de histórias que ela me comprava sempre que ia às compras. Isso foi o início de uma paixão que nunca mais havia de me abandonar.
E hoje, pensando nisso, lembrei-me imediatamente das colecções de livros que marcaram a minha infância. Eram os livros dos cinco e dos sete, ambas as colecções de uma escritora inglesa, Enid Blyton . Deliciava-me, então, a imaginar que também fazia parte das aventuras que a autora relatava, de um modo tão empolgante e real.
O vício era tal que, depois da hora imposta para dormir, eu cobria a cabeça com uma manta e lia até me fartar, com a ajuda de um pequeno candeeiro que enfiava lá debaixo. Penso até que terá sido de uma situação idêntica em qualquer ponto do globo que terá nascido a ideia das saunas.
Quando acabei de ler as duas colecções completas passei para outras que eram "O colégio das 4 torres" e "As gémeas no colégio de Santa Clara" , da mesma autora, e a magia continuava sempre presente em cada livro, em cada linha que se saboreava.
O certo é que dos meus três filhos nenhum me seguiu nos hábitos de leitura ( parece-me que a minha filha agora já vai lendo umas coisas...) apesar de todos os esforços e incentivos que fiz nesse sentido, e não consigo deixar de pensar que perdem uma riqueza que nem sequer conseguem imaginar.
Há poucas coisas que me irritem tanto como ter insónias. Felizmente é coisa que pouco me acontece, sou uma pessoa que precisa de dormir muito e bem e, à boa maneira alentejana, se for possível ainda lhe meto uma sestita no meio.
Comecei a notar que algo não ia bem quando deixei de conseguir "passar pelas brasas" depois do almoço. Bolas...isto é um sintoma verdadeiramente alarmante para quem, como dizia dantes a minha mãe durante a árdua tarefa de me fazer levantar de manhã, sofre da doença do sono. Cheguei mesmo a ouvir-lhe dizer que devia ter sido mordida por uma mosca africana sem que ninguém tivesse dado por isso, o que me deixava admirada porque nunca tínhamos saído deste cantinho à beira-mar plantado.
Com a idade já fiz progressos consideráveis e, das 14 ou 15 horas que conseguia dormir seguidas nos meus dias áureos, reduzi a quota para umas miseráveis 7/8.
Depois desse primeiro sintoma, apareceu-me um segundo que foi o facto de demorar mais do que 10 minutos a adormecer...uma eternidade!! E finalmente, a cereja em cima do bolo: a noite de ontem!
Sentia-me sonolenta e resolvi deitar-me por volta das 23h30m . À meia-noite ainda não tinha pregado olho e resolvi beber um chazinho para ver se dava resultado. Não deu.
E depois aconteceu o que eu mais receava...do meu lado começaram a vir sons dignos de uma série de ficção científica ou de um filme de terror. Era assim uma mistura de trombone com comboio capaz de apavorar qualquer um ( que não conheça já os ditos sons, o que não é o meu caso). Aí é que a coisa se estragou por completo porque quanto mais queria dormir mais os olhos teimavam em permanecer abertos. Para ajudar à festa houve um cão da vizinhança que resolveu acompanhar o concerto com os seus latidos. Que pesadelo!
Depois de algumas cotoveladas e sons que não resultaram comecei a matutar na medida drástica que teria que tomar se as coisas continuassem iguais. E assim foi, resolvi fazer uma coisa que ainda nunca tinha feito em 27 anos de casada e isto porque já eram 2 e tal da manhã e eu começava a ficar verdadeiramente desesperada...peguei na minha almofadinha e fui para o quarto da filhota.
Somos e sempre fomos uma família muito "viajante". Não há mês nenhum que não saiamos pelo menos dois fins de semana o que, de início, tinha imensa piada mas agora já não tem gracinha nenhuma porque é extremamente maçador andar constantemente a arrumar e desarrumar a "trouxa". Estou um bocadinho assim para o fartíssima.
E depois, a idade não perdoa e a minha hérnia discal acha que deve participar activamente de toda e qualquer viagem e então resolve dar sinal sempre que a distância seja superior a 50 km.
E assim foi este fim de semana, com a agravante de a viagem durar mais de 4 horas. É demais para mim...
O filhote, de portátil no colo e phones do ipod nos ouvidos, lá vai passando as viagens a ver filmes ou a ouvir música, conforme o apetite.
E depois ali vamos nós dois, que não temos por hábito falar muito durante as viagens. Tirando o rádio que vai dando uma musiquinha que cantarolamos, pouco mais se conversa.
Mas esta foi uma viagem diferente...O meu marido esteve surpreendentemente falador. Eis algumas das frases proferidas por ele durante o percurso:
"- Então mas tu falas quando não é preciso e agora que quero que fales estás calada?"
"- És mesmo parva. Achas mesmo que esse é o melhor caminho?"
"- Pronto, já te podes calar!"
"- Agora quero ver o que tu fazes se eu for por este lado..."
E como estes poucos exemplos, eu poderia continuar a reproduzir aqui muitas mais frases suas.
Mas para quem pense que esta conversada toda era dirigida a mim, desengane-se (era só o que faltava chamar-me parva!!). Não senhor, tudo isto e muito mais era dirigido à Catarina...a menina do GPS!! Ainda estou indecisa se hei-de fazer uma cena de ciúmes à moda antiga ou deixar-me ficar caladinha...
Quando eu penso que já ouvi tudo o que há para ouvir em televisão, desengano-me em pouco tempo pois depressa vejo qualquer programa que me deixa boquiaberta. Então não é que estava muito entretida a ver o programa da Oprah , na SIC Mulher e começa a ser entrevistado um médico que é colaborador assíduo do programa. A coisa funciona da seguinte forma: pessoas de qualquer ponto do país que tenham alguma dúvida relativa a um problema de saúde colocam a sua questão e o médico responde no programa.
Para já começo por dizer que nunca na minha vida me passou pela cabeça que fosse possível fazer um programa com o tema deste, mas é real. A Oprah resolveu fazer um programa dedicado...às fezes. Juro que é verdade, por mais incrível que tal possa parecer! E então aparece uma senhora que pôs a questão ao referido doutor onde dizia que tinha um grave problema porque quando saía de casa, de férias, os seus intestinos também entravam de férias porque deixavam de funcionar para só voltar à sua actividade normal no momento em que ela entrasse em casa. E vai o médico responde que o que ela tinha era Síndrome de Sanita Segura. E lá fez uma explicação detalhada do porquê de tal doença e eu só conseguia pensar...Síndrome do quê, pelo amor de Deus??!!
Recordo-me como se fosse ontem a excitação imensa que se apoderava de mim e do meu irmão quando o meu pai decidia qual era o dia em que iríamos de férias. A partir daí e até à data marcada eu rezava para que o tempo corresse bem rápido tal era a ânsia da partida. A minha mãe, com a sua organização habitual, fazia listas infindas de tudo o que era necessário levar e, quando chegava o grande dia ( melhor dizendo...a grande madrugada porque para o meu pai, viagens boas são as que se fazem saindo de casa às cinco da mnhã), depois de uma noite em que mal pregávamos olho, lá se metia a tralha toda no carro (tralha essa que mais parecia uma mudança de casa do que umas simples férias de 15 diazitos) e lá partíamos cheios de alegria.
Desde que saíamos até que chegávamos aborrecíamos o meu pai até ao máximo que ele podia suportar, perguntando constantemente quanto tempo faltava para chegarmos.
E porquê este post saudosista? Porque há pouco, ao dizer ao meu filho mais novo (o único que ainda nos acompanha) que íamos passar o fim de semana ao Porto, o rapazinho reagiu como se eu lhe tivesse dito que o ia mandar para um colégio interno na Suiça, tal foi o rol de reclamações e lamúrias que tive que aguentar. E os amigos? Como é que ele podia brincar com os amigos se nós insistíamos em que ele nos acompanhasse? Sim, porque ele é perfeitamente capaz de ficar em casa sozinho enquanto nós vamos! Uma pessoa que apenas estivesse a ouvir pensaria que o rapaz tem, no mínimo uns 16 anos. Mas não...tem 12. E é um castigo cada vez que decidimos ir passar nem que seja um fim de semana fora, vá-se lá saber porquê.
É óbvio que eu entendo que ele prefira brincar com os amigos do que sair com os pais mas a verdade é que nós vamos e voltamos e os amigos cá estão prontos para a brincadeira e, muitos deles talvez roídos de inveja dos passeios que ele dá...contrariado.
E vêm-me à ideia as palavras do meu pai, quando assiste a este género de diálogos entre nós e o nosso pré-adolescente. Diz ele, com a sabedoria própria da idade, que o que dantes eram dificuldade demais são agora facilidades exageradas. E parece-me que é mesmo disso que se trata!!
Ouvi recentemente a notícia de que os incêndios florestais este ano apresentam números significativamente inferiores aos de igual período de anos anteriores. Alegrou-se-me a alma e, por breves momentos, pensei que estávamos no bom caminho, que finalmente as pessoas se tinham apercebido que temos que proteger as florestas se queremos que as gerações futuras tenham hipóteses de uma vida saudável, que os que incendeiam florestas a mando de outros devido a interesses económicos esconsos tinham finalmente tomado consciência cívica...Tudo isto me passou pela cabeça em breves segundos.
Foi até ouvir o resto da notícia que dizia que isto se deve ao facto de os terrenos possuírem níveis mais elevados de humidade do que noutros anos uma vez que o Verão tardou em chegar e as temperaturas altas se têm intercalado com chuva.
E pronto, foi assim...durante breves instantes fui embalada pelo sonho de que as mentalidades estavam finalmente a mudar. É pena ter sido mesmo só um sonho!
Estava agora mesmo a fazer um zapping televisivo sem me deter em nenhum dos quase 100 canais que temos à disposição e aproveitando o dolce fare niente do primeiro dia de férias quando comecei a aperceber-me de que há algo em comum entre canais tão diferentes como os espanhóis , alemães, americanos, ingleses, etc. À partida não deveria haver nada em comum pois cada país tem as sua diversidades cultural e a sua maneira própria de fazer televisão mas há realmente uma coisa em que são iguais: todas usam pessoas sorridentes, bonitas e bem-humoradas que exibem os seus atributos físicos, quanto mais melhor. As mulheres, invariavelmente, exibem os seus corpos perfeitos e sensuais enquanto os homens são chamados a exibirem poder e dinheiro ao mesmo tempo que esbanjam charme e um sorriso capaz de derreter o maior iceberg do mundo.
Homens e mulheres deixam de lado as suas qualidades enquanto seres humanos para mostrarem como se cultiva o corpo, enquanto divulgam fórmulas de sucesso deste ou daquele produto. Convidam à admiração, suscitam inveja, capitalizam para si o que lhes interessa, alimentam especulações em torno da sua vida privada que supostamente devia ser isso mesmo...privada. E assim fazem a sua própria fortuna e a de uma verdadeira indústria de produtos e imagens de celebridades. Parecem felizes ao exibir uma satisfação aparentemente sem fim. Será possível que estes homens e mulheres não tenham sofrimentos e contrariedades também??!!
A exuberância excessiva, a sensualidade exibicionista e a insistência de sorrisos, que parecem nunca se desfazer, a insistência da perfeição corpórea tentam passar a imagem de biografias que não registam derrotas, dúvidas nem decepções. E lutam desesperadamente contra a passagem do tempo, como se cada ruga não fosse um sinal do que vivemos e sim uma evidência de algo vergonhoso. Parece que se busca uma felicidade plastificada, impermeável às intempéries da vida e, ao mesmo tempo, o reconhecimento e admiração do outro não pela qualidade do ser, do carácter, do que somos, mas do que parecemos ser. Ou seja, todos querem ser reconhecidos pelo que a sua imagem passa para as pessoas que nos rodeiam e não pelo que realmente são.
Tratamentos cosméticos, cirurgias radicais, é ampla a gama de recursos utilizados para tentar ficar bem com o próprio corpo. Adereços, roupas, maquilhagens, tatuagens, piercings, musculação, cirurgias plásticas...tudo procura dar conta de um mal-estar que, mesmo que referido ao corpo, geralmente pouco tem a ver com ele. São apenas tentativas, muitas vezes vãs, de aplacar inquietações, angústias, e experiências mais profundas de vazio de alma que apenas no corpo encontram uma forma de emitir sinais incompreensíveis de pedidos de socorro.
Já dizia a minha avó que não há fome que não dê em fartura e o ditado aplica-se na perfeição às subidas de temperatura que se prevêem para os próximos dias.
A paisagem passa do doirado ao castanho, sucumbindo ao calor abrasador que se faz sentir. E os corpos transpiram sem cessar e todos procuram, em vão, um sítio onde consigam refrescar um pouco.
Eu bem sei que suspirei sem fim pela vinda do calor mas agora também já acho que não era preciso tanto. Este calor abrasador até se torna insalubre e faz com que as pessoas pareçam arrastar-se sem forças. Detesto esta atmosfera sufocante e pegajosa. Com o calor exagerado pensa-se mal, trabalha-se pior e nem a praia sabe bem!
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