Desde criança que sempre fui uma pessoa muito crédula. Tão crédula que acreditei até aos 10 anos que os bebés vinham de comboio, de França. Isto porque eu nasci em casa (não se escandalizem os mais novos, dantes era assim...) e, quando encontrávamos a parteira que me ajudou a nascer, a minha mãe dizia sempre "Vai dar um beijinho à senhora que te foi buscar ao comboio". E eu lá ia, muito satisfeita embora um pouco intrigada sobre o porquê de não terem sido os meus pais a irem até à estação para me levarem para casa.
Apesar de os colegas da escola me dizerem que não era assim, que a minha mãe me estava a enganar, eu continuava a acreditar nela porque era para mim inconcebível que me mentisse sobre uma coisa tão importante. Quando ela finalmente ficou grávida do meu irmão e me disse que ele estava dentro da barriga dela, depois de um instante em que me ocorreu a ideia "Mas porque é que eu vim de comboio sozinha e ele está aí dentro todo regalado e quentinho??!!", fez-se luz e, aí, vi que realmente os amigos da escola sabiam mais umas coisinhas do que eu.
Tudo isto para dizer que também acreditei que era o Menino Jesus que nos trazia os presentes até aos 10 anos. Nos dias que correm parece uma coisa ridícula, já que as crianças a partir dos 5/6 anos já sabem perfeitamente que são os pais que lhes oferecem as coisas e, muitas vezes, são eles mesmos que escolhem, mais de um mês antes do Natal. Desculpem lá mas acho que isto não tem piada nenhuma!
Por mim tinha continuado a acreditar até hoje! Não só porque é uma ideia maravilhosa a de ser o filho de Deus que nos presenteasse com o que mais desejássemos (sem exageros, claro...) mas também porque sairia definitivamente mais em conta, já que está tudo pela hora da morte.
Mas então, como disse, aos 10 anos desvenda-se o mistério e tudo aconteceu de uma forma que permanece vívida na minha caixinha de recordações, como se tivesse acontecido há apenas uns dias atrás.
Normalmente, a noite de Natal era passada em casa da minha avó paterna, com umas visitas pelo meio a familiares e amigos. Era nessa noite que se faziam as azevias que, para quem não saiba, são uns fritos deliciosos típicos do Alentejo nesta época natalícia.
Nessa noite vinham os meus tios (único irmão do meu pai e respectiva esposa) e o meu primo ( que, apesar de ter apenas mais 5 anos do que eu era também meu padrinho e, infelizmente, já não se encontra entre nós), que moravam perto de Lisboa e era uma enorme alegria este reencontro.
Nesse Natal, a minha avó tinha-me recomendado há vários dias que, não mexesse num enorme vulto que se encontrava tapado com uma colcha, em cima de um malão daqueles antigos, porque "as coisas eram de uma senhora e, se alguém lhes mexesse, ela ia ficar muito zangada". Credulazinha como era, nem sequer me ocorreu dar uma espreitadela. Até apetece dizer DAHHH ... :-)
E então chegam os meus tios e o meu padrinho que, assim que apanhou os adultos distraídos a conversar, se dirigiu para a sala de jantar e se pôs a destapar as "coisas da senhora", comigo a guinchar de volta dele que não fizesse isso porque a avó não queria.
Ele é que não foi na cantiga e, depois de me chamar "bacoca" ou qualquer coisa do género, puxa a colcha e... destrói uma crença de 10 anos! Ao fim de 2 minutos apareço eu ao pé dos meus pais com uma magnífica boneca de longos cabelos ruivos ao colo, com o meu padrinho a gozar comigo atrás e, só vos digo, o olhar que os meus pais lançaram ao raio do gaiato foi como se estivessem de frente com o demo em pessoa!!
E foi assim que eu deixei de acreditar no Menino Jesus como ofertante do Natal!
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