Tanto tempo perdido: rotina, mais rotina, sempre rotina. Pelas horas, dias e anos.
Trabalhar, comer, dormir. Eterna repetição em busca do dinheiro, do sucesso. Sem sonhar, sem saber, sem sentir.
E assim se vai a vida. Desvanece-se no cárcere sombrio do materialismo, até que um dia como por milagre ou predestinação, um facto simples (um pôr-do-sol, o canto dum passarinho, o sorrir de uma criança, o sofrimento, a dor...) é como uma revelação.
Como se a luz varresse a cegueira em que vivíamos e nos pusesse em contacto com o mundo que nos cerca.
Tudo nos parece belo, maravilhoso, claro...e, de surpresa em surpresa, sentimos o encontro da natureza, a grandeza da vida e as coisas simples de serem sentidas...sobretudo quando nos identificamos com elas.
Por isso, abram a janela da vossa alma para a vida, e vivam-na natural e simplesmente, olhem para todos os lados e amem tudo que vos cerca, sem restrições ou críticas, mas com alegria. E sejam Felizes!
Há uns dias visitei a vila onde nasci. Tudo está mudado! Tudo o que pertencia ao meu tempo, à minha infância e adolescência, à minha memória, quase desapareceu. "É o progresso", é o que me dizem.
Não sei que conceito é este de progresso! Para mim não é progresso nem regresso, é o inverso. O inverso dos valores em que fui criada, o inverso da sensibilidade em que vivíamos, da paz e da tranquilidade que lá se respirava, o inverso do convívio fraterno e de verdadeira amizade entre toda a população. É o insucesso.
Insucesso da sociedade nesta caminhada que nos envolve a todos e em que cada um de nós teima em caminhar sozinho, sem olhar sequer à sua volta e sem se aperceber que, perdendo a amizade dos que nos rodeiam se perde todo o sentido da vida.
Viver é conviver. Já todos ouvimos esta frase. Eu aprendi-a com a educação que me deram e com o que a experiência me ensinou. Ali, na minha terra, a vida escorria nas nossas veias e entre os nossos dedos, por entre a família, grande, e os vizinhos, os animais e as plantas. Tudo em equilíbrio numa união perfeita. Homens, mulheres e crianças cresciam e viviam felizes com a natureza..
Éramos tão livres como os pássaros que cantavam nas árvores que nos davam a sua sombra. Havia paz, tranquilidade e respeito. Às vezes havia um ou outro desentendimento mas não me lembro de agressões, mortes violentas ou destruição. Tudo isto porque havia valores. Valores que, sem se saber bem como, se foram perdendo.
Em que momento se perdeu o respeito pelos mais velhos, o carinho pelas crianças, animais e plantas? Os nossos avós podiam ser analfabetos mas eram cheios de sensibilidade e sabiam educar os filhos.
Nós, com a nossa ânsia por conhecimento, quisemos saber mais. Quisemos saber o que se passava para lá do nosso pequeno horizonte. Acreditámos que, aprendendo mais, tornaríamos o mundo melhor.
Agora, que o meu horizonte já é maior que o planeta, eu quero ainda continuar a acreditar que não trilhamos um caminho sem retorno.
Muitas vezes tenho uma sensação estranha, como que um pressentimento, de que alguma coisa irá correr mal brevemente. É um medo que se entranha em mim e ao qual tenho dificuldade em fugir, embora me esforce sempre por não o mostrar e o tente superar rapidamente. Ás vezes, talvez para me consolar a mim própria, penso que o medo é irmão da esperança. Isto que eu acabei de dizer, talvez pareça um absurdo. Será?!...
O pensamento, às vezes, é um vento que sopra desordenado, sem nexo nem lógica e nós compreendemos que, aquilo que acabámos de pensar não tem lógica. Mas, para compreendermos o que pensámos, é necessários organizar o pensamento logicamente, analisando o que pensámos. O medo assusta-nos, por vezes tolhe-nos os movimentos, prende-nos ao chão, retira-nos as forças, bloqueia-nos os movimentos, retira-nos as capacidades. Outras vezes dá-nos forças que desconhecíamos, impulsiona-nos, empurra-nos, imprime-nos velocidades, aclara-nos os pensamentos. Catapulta-nos.
A esperança, essa não tem nada de negativo. Sendo que negativo aqui é considerado aquilo que nos tolhe. A esperança é sempre alegre. A esperança canta e dança na nossa cabeça, pula e brinca na nossa frente, chama-nos, abre-nos caminhos, constrói-nos castelos, cria-nos ilusões, dá-nos novas forças, traça-nos projectos.
Então, o que eu penso não faz sentido!... Mas eu penso-o . Se não faz sentido porque é que eu o penso?
Quando é que sentimos medo? Quando ainda temos esperança. Medo e esperança convivem no mesmo espaço e no mesmo tempo pessoal. Temos medo quando temos alguma coisa a perder: O Amor; os que amamos, a saúde , a segurança, o emprego, os bens; a Vida. Algo que queremos conservar. O medo é, assim, o sentimento da perda possível. É a posse ou a perspectiva da perda dessa posse que nos provoca medo. Quem não tem nada a perder não tem medo. Mesmo os condenados à morte continuam a ter medo enquanto têm vida. Por isso se diz “ enquanto há vida há esperança”
Teremos de perder o medo?... Não!
Só há medo enquanto há esperança. Por isso, ultrapassemos o medo e agarremos a esperança.
Escrever faz parte de mim. Às vezes não tenho assunto ou até não me apetece muito. Mas depois chega um dia em que o que está cá dentro tem que extravasar e eu tenho que pôr as "ideias a arejar". Ás vezes apenas me apetece escrever por escrever.
Escrever por escrever pode parecer uma ilusão, uma perda de tempo, consumo de energia fútil ou desperdício de imaginação. Pode até parecer o mesmo que discutir sem adversário ou conversar sem assunto. Mas, para mim, escrever é um exercício gratificante, sinal de vitalidade.
A procura do sentido do que se escreve e a harmonia do texto é um exercício de construção, de escultor que modela a peça, de pintor que se matiza nas cores. Escrever faz jorrar uma energia que não pode ser contida.
Quem escreve vira-se do avesso, exterioriza o que lhe vai na alma, na memória, nos sentidos. Coloca na escrita, ainda que não pareça nem ele disso mesmo tenha consciência, pedaços de si próprio, partículas do seu eu que, ao longo da vida, foi construíndo. Cada frase é parte do seu todo, cada letra é uma gota de sangue que lhe corre nas veias. Escrever como simples exercício pode ser interessante, bonito e estimulante pela capacidade de escolher as palavras, organizá-las numa frase, dar-lhe sentido, estabelecer as suas relações, aplicar o adjectivo que melhor se adequa, utilizar o verbo que melhor descreve a acção, dar cor ao texto, dar-lhe som, musicalidade, imprimir-lhe convicção, apelo ou imposição, ordem ou súplica, blasfémia ou oração.
Cada texto é um grito, uma ruptura com a solidão, uma brecha na muralha que tantas vezes construímos à nossa volta mesmo sem darmos por isso. É um brado de liberdade. Liberdade de fazer o que se quer, o que se deseja. De dizer o que nos enche por dentro.
Pode não atrair muitos leitores, pode não agradar a parte ou totalidade deles mas é obra, é criação. Ainda ninguém deixou de fazer um filho por pensar que pode sair feio, ou deixou?! Mesmo escrever por escrever, no meu ponto de vista, é sempre melhor do que não escrever
Tecendo os dias. Assim vamos. Escolhendo coisas, lugares, momentos, pessoas, amigos e amores. Somos nós os donos dos nossos caminhos. Somos nós que determinamos o nosso horizonte. Ou os nossos. Por que não?? Mais que um é bom! Torna possível a dúvida: de ir para lá ou para acolá.
Mesmo que esse horizonte seja apenas aquela fina linha dividindo dois azuis. Perdida... Porém, não tarda até que tomemos rumo, seja ele certo ou errado. Às vezes é preciso paciência e uma grande habilidade de controlar a ansiedade. Estamos sempre em busca de algo, mesmo que distante. E são, literalmente, as maiores distâncias que nos fazem ir mais longe. A graça está justamente nisso, em encher a mente de sonhos (realizáveis ou não) e viajar, tantas vezes sem sair do sítio.
Trilhar caminhos e buscar novos amanheceres é aquilo que nunca podemos deixar de fazer.
Já dizia a minha avó que quem muito fala pouco acerta. É também provérbio conhecido que "a palavra é de prata e o silêncio é de ouro". É sinal de inteligência e sabedoria falar pouco, falar bem e tentar evitar falar mal de alguém.
Contudo, calar-se é ainda mais importante quando, ao calarmo-nos dizemos tudo. Há quem se cale por não ter realmente nada importante para dizer e há também quem se cale por omissão, quando seria seu dever falar, escrever, gritar para defender ou denunciar.
Calarmo-nos na hora certa e pelos motivos certos é uma verdadeira arte. No entanto, há silêncios falsos, aqueles que fingem uma sabedoria que, de facto, não existe. Nem sempre o silêncio é sinal de profundidade de pensamentos. Pelo contrário, é uma camada de verniz que recobre o vazio sepulcral de quem nunca tem nada para dizer.
Mas há ainda outros silêncios, alguns deles diabólicos. Há o silêncio manipulador, o silêncio torturante, o silêncio chantagista, o silêncio rancoroso, o silêncio conivente, o silêncio imbecil, o silêncios do desprezo. Há pessoas que matam com o seu silêncio. Há silêncios que esmagam a justiça e a bondade.
Por tudo isso, o silêncio rico de significado é ainda mais apreciável e luminoso.
Falo do silêncio que prenuncia novas palavras.
Falo do silêncio que é solidariedade na dor.
Falo do silêncio que pergunta.
Falo do silêncio que perdoa.
Falo do silêncio que ama.
O silêncio mais puro é aquele que guarda uma confidência. Este jamais é excessivo. Não deve apregoar-se aos quatro ventos o que foi pronunciado na intimidade da amizade ou do amor.
O silêncio mais sábio é o que fazemos perante os impertinentes, os intolerantes. Calar da maneira certa é deixar que uma voz mais profunda seja ouvida. A voz severa, serena e suave da verdade. O verdadeiro silêncio diz a verdade que não se pode calar. O verdadeiro silêncio nunca é cedo demais.
. solidão
. Humor
. Alentejo
. in-util
. Amigos
. Milena
. Vida
. Caty
. Migas
. rcarlos
. Tibéu
. Princesa
. Raio