Há muito tempo que não partilhava os meus poemas preferidos da minha poetisa de eleição, Florbela Espanca. Resolvi fazê-lo hoje.
Não querer mais que bem querer
Meu amor, meu Amado, vê... repara:
Pousa os teus lindos olhos de oiro em mim,
- Dos meus beijos de amor Deus fez-me avara
Para nunca os contares ate ao fim.
Meus olhos têm tons de pedra rara
- É só para teu bem que os tenho assim -
E as minhas mãos são fontes de água clara
A cantar sobre a sede dum jardim.
Sou triste como a folha ao abandono
Num parque solitário, pelo Outono,
Sobre um lago onde vogam nenufares...
Deus fez-me atravessar o teu caminho...
- Que contas dás a Deus indo sozinho,
Passando junto a mim, sem me encontrares?
In, Charneca em flor
O que há em mim é sobretudo cansaço Não disto nem daquilo, Nem sequer de tudo ou de nada: Cansaço assim mesmo, ele mesmo, Cansaço. A subtileza das sensações inúteis, As paixões violentas por coisa nenhuma, Os amores intensos por o suposto alguém. Essas coisas todas - Essas e o que faz falta nelas eternamente -; Tudo isso faz um cansaço, Este cansaço, Cansaço. Há sem dúvida quem ame o infinito, Há sem dúvida quem deseje o impossível, Há sem dúvida quem não queira nada - Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser... E o resultado? Para eles a vida vivida ou sonhada, Para eles o sonho sonhado ou vivido, Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... Para mim só um grande, um profundo, E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, Um supremíssimo cansaço. Íssimo, íssimo. íssimo, Cansaço... Álvaro de Campos
Amanhã será diferente,
basta semear utopias.
Amanhã haverá um caminho na noite.
basta dar a mão à esperança.
Amanhã haverá rios no deserto,
basta orientar nascentes e vontades.
Amanhã o lobo habitará com o cordeiro,
basta derrubar preconceitos.
Amanhã da terra queimada nascerá a paz,
basta das espadas fundir relhas de arado.
Amanhã cairão todas as fronteiras,
basta deixar cair todas as vaidades.
Amanhã os montes darão trigo,
basta dar tempo à Primavera.
Amanhã a palavra será pão,
basta ultrapassar egoísmos.
Amanhã a "nova terra" será possível,
basta dar a palavra aos poetas.
Amanhã haverá sol em todas as janelas,
basta haver AMOR em todos os corações.
Se me ponho a cismar em outras eras Em que ri e cantei, em que era querida, Parece-me que foi noutras esferas, Parece-me que foi numa outra vida... E a minha triste boca dolorida, Que dantes tinha o rir das primaveras, Esbate as linhas graves e severas E cai num abandono de esquecida! E fico, pensativa, olhando o vago... Toma a brandura plácida dum lago O meu rosto de monja de marfim... E as lágrimas que choro, branca e calma, Ninguém as vê brotar dentro da alma! Ninguém as vê cair dentro de mim! Florbela Espanca
Mais um poema da minha poetisa preferida, Florbela Espanca.
Quanta tristeza e desalento contidos em simples versos.
Mostram a alma de quem escreve até ao seu mais ínfimo pormenor.
Para quem acha que é uma ofensa aos poetas portugueses apreciar as letras de Pedro Abrunhosa, aqui vai um poema que também é do meu agrado e, simultâneamente, uma ode ao Alentejo que eu amo. Penso que será do consenso geral que é de uma grande poetisa portuguesa. Sim, porque eu sou uma pessoa de gostos muito ecléticos!
Árvores do Alentejo
Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a benção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
--- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
Florbela Espanca
E agora, filhota, estou perdoada?? :-)
Hoje apetece-me ter asas
Apetece-me voar, viajar por novos mundos
Ver novas caras, novos horizontes.
Ver crianças brincarem juntas
E festejarem a sua breve alegria.
Hoje apetece-me ter asas,
Apetece-me ir sem nunca chegar
Para não ter de partir novamente
Para não voltar a ver olhos chorosos
Angustiados com uma imaginada partida
Hoje apetece-me ter asas
Apetece-me atrever o desejo
Ver o imaginado acontecer
Ver o adormecimento da guerra
Sucumbir como a sua última e própria vitima
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