Num país distante havia um presidente que gostava tanto do poder que vivia apavorado pela chegada do dia em que seria substituído por outro, voltando assim a ser um entre tantos.
Teve então uma ideia. Mandou espalhar a informação de que possuía no seu palácio presidencial um cofre que continha um magnífico tesouro e que, quem o conseguisse de lá retirar, seria o escolhido para lhe suceder à frente dos destinos do país.
Formaram-se filas enormes de cidadãos que queriam tentar a sua sorte. Cada um que tentava, ao meter a mão no cofre, ficava com ela decepada. Alguns, principalmente políticos e membros do governo, com a ambição do poder, tentavam ainda com a outra mão, à qual acontecia o mesmo.
Depois de todos terem tentado (ficando assim incapacitados), o Presidente manifestou a sua enorme alegria, batendo palmas. Era o único no país que ainda o conseguia fazer...
Ali estava ela. Precisamente a fazer aquilo que sempre tinha reprovado às amigas e que sempre jurara nunca igualar. “Que figura ridícula…aqui metida no carro às escuras, escondida como se fosse uma criminosa.” Pensou ela pela milésima vez. Apesar disso continuou ali, imóvel e expectante, dentro do carro. Do sítio onde estava via perfeitamente a porta do restaurante onde ele estava num jantar de negócios.
Analisando a sua atitude achava-a injustificável pois não existia marido mais atencioso e dedicado do que ele. Sabia muito bem que, secretamente, era invejada pela maioria das amigas, umas divorciadas e outras presas a casamentos de pura conveniência onde o amor já nem era ilusório, apenas inexistente. Um negócio como outro qualquer.
Há já alguns dias que a invadia aquela sensação estranha, aquele aperto no peito quando o trabalho dele se prolongava
Pensou novamente como era loucura estar ali, no carro frio, quando podia estar em casa, descansada mas ali continuou na obscuridade do estacionamento como se a razão e o coração fossem independentes e tivessem vontade própria.
Começavam já a sair os primeiros clientes; não devia tardar muito a vê-lo sair com os colegas. Se arranjasse coragem para lhe contar, mais tarde, dariam boas gargalhadas à conta desta aventura.
De repente viu-o através das portas de vidro do restaurante e esboçou um sorriso. Que se congelou de imediato ao ver aquele enlaçar de cintura e o acariciar do rosto que lhe era tão familiar. Esforçou-se por ver o rosto da mulher que o acompanhava mas parecia envolto em nevoeiro, por mais esforços que fizesse para vislumbrá-lo.
- Amor, acorda, acorda! Estás tão agitada que quase me fizeste cair da cama. É um pesadelo, não?
Abriu os olhos e lá estava o rosto familiar, a preocupação espelhada nos olhos, tentando despertá-la, afugentar as sombras do sonho mau.
- Sonhei que estavas com outra mulher, beijando-a, acariciando-a…
A gargalhada bem humorada ecoou no quarto. “Tonta” sussurrou ele, antes de a beijar.
O ritual matinal correu igual ao dos outros dias: O pequeno-almoço partilhado, a saída apressada, o sorriso e o beijo de despedida.
Riu sozinha ao recordar o sonho que tivera. Por sua vez, também ele seguia, pensando no mesmo, enquanto estava no habitual pára-arranca quotidiano.
O toque familiar do telemóvel arrancou-o aos seus pensamentos.
- Querida, acho que a minha mulher está desconfiada de alguma coisa. Temos que ser ainda mais cuidadosos……Sim, claro, sabes bem que te amo. Até logo, no sítio do costume. Beijos.
Este é um conto ficcionado. Alguma semelhança com a realidade é pura coincidência. :-)
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